Niestzsche,
em observação de 1881, sobre viagem ao sul da Itália, em 1876.
“‘Como posso ter suportado viver até
agora!’, enquanto o veículo rodava por Posillipo – luz do entardecer.
Não tenho força suficiente para o norte:
lá reinam almas grosseiras e artificias que trabalham tão assídua e
necessariamente quanto o castor em sua construção. E pensar que foi entre elas
que passei toda a minha juventude! Eis o que me impressionou quando pela
primeira vez vi chegar o entardecer com seu vermelho e seu cinza aveludados no
céu de Nápoles [você poderia te morrido sem ter visto isso] – como um arrepio,
como por pena de mim mesmo pelo fato de haver começado minha vida sendo velho,
e me vieram lágrimas e o sentimento de ter sido salvo, ainda que no último
instante.
Eu tenho disposição suficiente para o sul.”
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ResponderExcluirInteressante como ele,se rebelando contra a ideia da redenção pelo trabalho,o que considera uma utopia da sociedade daquela época (ou de sempre?),diante de um entardecer faz sua catarse e considera-se "salvo, ainda que no último instante".Salvo do quê, exatamente, esse não seria também um sentimento utópico, por assim dizer,polarizado?
ResponderExcluirAcho que o espanto de se deparar com a possibilidade de um outro modo de vida (no sul as coisas são diferentes, o utilitarismo talvez menor, prioridade ao lazer etc), em outra paisagem (menos ríspida, mais próxima ao temperamento sufocado daquele que a contempla) quando já não havia muita esperança, deve causar esse deslumbramento. Penso num ruído de fundo não percebido durante toda a vida que, de repente, fica perceptível e daí insuportável.
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