O dia do meu aniversário do ano passado
é uma nota vaga no meu moleskine, alguma lembrança de presente ou felicitação
recebida, e os de outros anos eu mal lembro, a não ser os excepcionais, quando
houve uma festa surpresa etc. Eu vou caminhando e pensando no meu aniversário,
que é hoje, mas amanhã, penso, é outro dia e o dia de hoje já não será mais quase nada. Eu não consigo entender o sentido disso,
do dia que vai passar, e pronto, e não sei, acho que não, se os humanos têm
maneiras de compreender qualquer coisa que os transcenda, o tempo, o sentido,
ou melhor, não sei se os humanos têm condições de entender qualquer coisa. A
língua foi construída por nós e depois passou a nos construir, tudo o que se
pensa, se explica, se narra, se imagina, se espera é delimitado pelo que é
possível dizer. É o nosso universo, humano, não o universo. Todas as outras perspectivas estão fora do nosso alcance. Só conseguimos ver a partir de nossos
próprios termos, dos signos que inventamos, do que é reconhecível a nós. Como, a partir daí, de nossos
próprios termos, pensar questões que os extrapolam? Caminho. Uma fenda relâmpago que se abre causando vertigens em certas datas. Olhar a hora e
esquecer segundos depois, tomar um remédio e logo em seguida não saber se o
tomou, viver e desaparecer para sempre.
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