Nessa Copa América a seleção do Mano Menezes faz-me desacreditar no futebol brasileiro. Os jogos parecem um dia funesto, daqueles que solapam qualquer perspectiva sobre qualquer coisa, desalentando toda possibilidade de melhoria futura, como se limitasse a visão a um inexorável beco sem saída. Esses dias, quase sempre se dissipam depois de uma boa noite de sono, de um dia após o outro. No entanto, a situação do time brasileiro é cada vez mais morna e resignante, em minha opinião. Nesse exato momento, intervalo de jogo contra o Equador (empatado em 1x1), estamos na posição de segundo melhor terceiro lugar, veja só.
Isso me faz lembrar o filme que assisti logo antes do jogo: Wimbledon. Também envolvendo o esporte — o tênis. Trata de um tenista em franca decadência, prestes a aposentar-se, mas que, ao ser convidado pro torneio que dá nome ao filme (gol do Brasil! Finalmente Neymar-cabelo-de-pica-pau), redescobre-se depois de conhecer uma linda tenista. O roteiro segue o trivial das comédias românticas:
O personagem vive meio perdido e insatisfeito (gol do Equador!); mas conhece, de forma irreverente, alguém por quem se atrai; vem o momento do flerte, a conquista com alguns contratempos e a paixão febril; depois os dois vivem momentos lindos. Embalados por alguma música esfuziante e cadenciada passeiam por parques, brincam de guerra de areia na beira do mar, olham o céu estrelado, andam de carrinho de choque gargalhando ou pintam alguma parede se sujando de tinta, aos beijos. É aquela parte feita um clipe, que toda comédia romântica tem, e faz o espectador suspirar, almejando de forma sonhadora também viver a mágica-inebriante daquilo tudo; então algo dá errado, os dois se magoam — seja por um vilão a criar intrigas ou por uma mentira “inocente” recém-descoberta pelo outro — e se afastam.
Separados (e profundamente deprimidos), um não para de pensar no outro e isso leva algum deles a querer ir embora. Quando tudo está pronto para partida, com o outro já no aeroporto, um deles descobre toda a armação do vilão mequetrefe ou o quanto ama a outra pessoa. Aí vem a cena da correria pra não deixar o avião decolar, o trem partir, como se fosse acabar o mundo e o grande amor viajar prum universo impossível de se alcançar. A gente já sabe o final, mas torce pra tudo dar certo. E dá. (gol do Brasil!).
O filme Wimbledon é mais ou menos assim, não tendo as partes necessariamente iguais às descritas acima, mas bem parecidas. O que isso tem a ver com o jogo da seleção?
É que o tenista em fase decadente lembra o atual time brasileiro. Apesar do potencial existente nele, carecia de confiança, que só foi despertada depois de conhecer a linda tenista.
De participante convidado, 119º no ranking, chega à final. Mas exatamente na final, por um motivo como os citados acima, separado da garota, ele perde a confiança. Está prestes a sucumbir, leva uma lavada em quadra. Os narradores zombam, fora sorte tudo aquilo, é hora de realmente se aposentar. A câmera corta pra ela, triste, que vira uma entrevista dele há minutos atrás, já no aeroporto. Remoendo lembranças a ponto de explodir, o que ela faz? Sim, sai correndo, volta. Chega ao estádio, o tenista a vê, retoma a confiança, se superara e leva todos ao delírio: é campeão de Wimbledon!
E o pior que apesar de previsível, gostei. Não é um filme arte, claro, e se não traz a perplexidade e profundidade de reflexões de um Bergman ou Buñuel, não dá pra negar, (às vezes) esse tipo de filme (ingênuo?) alimenta resquícios de uma esperança ocultíssima, sabe-se lá onde, de que as coisas possam fazer sentido, apesar de eu achar que não fazem.
(gol do Brasil!).
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