domingo, 27 de dezembro de 2009

Lista de Filmes 2009

Mais uma!
E até agora a maior, vai ser difícil conseguir repetir o feito. Esse ano foi o dos excessos, foi o que mais li também, dezesseis livros, mais revistas e blogs e livros inacabados. É pouco, mas chego lá.

O que me chamou atenção passando a lista pro PC foi a “mania” muitas vezes estranha da indústria brasileira de mudar os títulos dos filmes pra nomes mais acessíveis, e até meio idiotas, com o intuito comercial, mas meio que menosprezando nosso intelecto. Por exemplo, “Dan in real life” é um filme que eu gostei bastante, é de um humor sutil que não busca a gargalhada escrachada e sim algo mais. Porém, com a transformação do título em português para “Eu, meu irmão e nossa namorada”, a coisa parece ser outra.

Bom, o tempo é meio curto agora, só quis deixar a lista aqui porque já é tradição minha.
Nos vemos ano que vem; 2009 vai deixar saudades.

1 - Amores Brutos - 4,5
2 - O Talentoso Ripley - 4,0
3 - O Tempo que Resta - 3,0
4 - O Caçador de Pipas - 4,0
5 - Moça com Brinco de Pérola - 4,0
6 - Ensaio sobre a Cegueira - 4,5
7 - Mar Adentro - 5,0
8 - A Liga Extraordinária - 2,0
9 - P.S. Te Amo - 3,0
10 - Maldita Sorte - 2,0
11 - Traídos pelo Destino - 4,0
12 - Capítulo 27 - 3,5
13 - Hurricane - 4,5
14 - Eu, meu Irmão e nossa Namorada - 4,0
15 - Beijo Roubado - 1,5
16 - Noites de Tormenta - 3,0
17 - Vicky Cristina Barcelona - 4,5
18 - Rede de Mentiras - 2,0
19 - O Clube de leitura de Jane Austen - 3,5
20 - Paixão a Flor da Pele - 3,5
21 - Pergunte ao Pó - 4,0
22 - Leis da Atração - 3,0
23 - Tentação - 3,5
24 - Shine (Brilhante) - 5,0
25 - Sociedade dos Poetas Mortos - 4,0
26 - V de Vingança - 3,5
27 - Dom Juan de Marco - 4,5
28 - A Rainha - 4,0
29 - Volver - 3,5
30 - As Confissões de Henry Fool - 3,5
31 - Jogo de Sedução = 1,0
32 - Longe do Paraíso - 4,0
33 - O Vigarista do Ano - 2,5
34 - Bridget Jones no Limite da Razão - 3,0
35 - Razão e Sensibilidade - 4,5
36 - Chocolate - 4,0
37 - O Paciente Inglês - 5,0
38 - Green Card - 1,0
39 - Os Suspeitos - 3,0
40 - Cloverfield Monstro - 4,0
41 - O Leitor - 4,0
42 - Vanilla Sky - 4,0
43 - O Som do Coração - 3,0
44 - Indiana Jones (Reino da Caveira de Cristal) - 3,0
45 - Os Reis da Rua - 3,5
46 - Big Fish - 4,0
47 - O Curioso Caso de Benjamin Button - 4,5
48 - Cães de Aluguel - 4,0
49 - Tudo sobre minha Mãe - 4,0
50 - Cinema Paradiso - 5,0
51 - Chamas da Vingança - 3,0
52 - O Último Rei da Escócia - 4,5
53 - Foi Apenas um Sonho - 5,0
54 - Sedução - 4,0
55 - Sob o Sol de Toscana - 2,5
56 - Um faz de Conta que Acontece - 3,0
57 - O Declínio do Império Americano - 4,0
58 - Luta pela Esperança - 4,0
59 - O Procurado - 3,5
60 - A Múmia 3 - A Tumba do Imperador Dragão - 3,0
61 - Falcão Negro em Perigo - 4,0
62 - Hell Boy 2 - O Exército Dourado - 2,0
63 - Mestre dos Mares - 4,0
64 - O Homem que Copiava - 3,5
65 - A Lenda do Tesouro Perdido 2 - 2,0
66 - As Muitas Mulheres de Minha Vida - 2,5
67 - Não estou Lá - 3,0
68 - Crupie - Vida em Jogo - 3,0
69 - Ronin - 3,0
70 - Do Inferno - 3,5
71 - Beleza Americana - 5,0
72 - Outono em Nova York - 2,0
73 - Memórias de uma Gueixa - 4,0
74 - ED TV - 2,0
75 - Eu sou a Lenda - 3,5
76 - Um Segredo Entre Nós - 3,5
77 - Meu Tio Matou um Cara - 3,5
78 - O Iluminado - 4,5
79 - Entre o Céu e o Inferno - 4,0
80 - Los Angeles - A Cidade Proibida - 4,0
81 - Época da Inocência - 4,0
82 - A Vida dos Outros - 5,0
83 - Caçado - 2,0
84 - Sim Senhor - 3,5
85 - Sete Vidas - 4,5
86 - Círculo de Fogo - 4,0
87 - O Lutador - 4,0
88 - O Virgem de 40 anos - 2,5
89 - Códigos de Guerra - 3,0
90 - Colcha de Retalhos - 2,5
91 - Por Amor - 3,5
92 - O Show de Truman - 4,5
93 - Quem quer Ser um Milhonário - 4,5
94 - Um Ato de Liberdade - 4,0
95 - Proposta Indecente - 4,0
96 - X-Man - Wolverine - 3,5
97 - O Albergue 2 - 0,5
98 - Espanglês - 3,0
99 - Antes de Partir - 3,0
100 - De Olhos bem Fechados - 4,5
101 - O Assassinato de Jesse James - 3,0
102 - Amar não tem Preço - 4,0
103 - O Preço da Coragem - 3,5
104 - Lendas da Paixão - 4,5
105 - O Guia dos Mochileiros da Galáxias - 3,5
106 - Minha Vida de Cachorro - 4,0
107 - Encontros ao Acaso - 1,0
108 - Alfie, O Sedutor - 3,5
109 - Espírito Selvagem - 4,0
110 - Jogos do Poder - 3,5
111 - Minority Report - 3,5
112 - Sem Reservas - 3,5
113 - Elizabeth - A Era do Outro - 4,5
114 - Busca Implacável - 4,0
115 - Rebobine Por Favor - 2,0
116 - Anjos de Demônios - 3,0
117 - Meu Nome não é Johnny - 3,5
118 - Profissão de Risco - 4,0
119 - Ó, Paí, Ó - 3,0
120 - A Cidade Perdida - 2,5
121 - Senhores do Crime - 3,0
122 - Medo da Verdade - 3,0
123 - Não Por Acaso - 3,5
124 - Quebrando a Banca - 3,5
125 - Lua de Fel - 4,5
126 - No Vale das Sombras - 4,0
127 - 36 - 3,5
128 - Melinda e Melinda - 3,5
129 - Senhor dos Anés - Sociedade do Anel - 4,0
130 - Senhor dos Anéis - As Duas Torres - 4,5
131 - Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei - 5,0
132 - Atirador - 3,0
133 - Arte, Amor e Ilusão - 3,0
134 - De Porta em Porta - 4,0
135 - Quase Deuses - 4,5
136 - Tudo pela Honra - 3,0
137 - Miami Vice - 2,0
138 - Um Bom Ano - 3,5
139 - Pecado Original - 4,0
140 - Scoop - O Grande Furo - 3,5
141 - Fim dos Tempos - 1,5
142 - Control - 4,0
143 - B13 - 13º Distrito - 0,5
144 - Sexo. Mentiras e Video Tape - 4,0
145 - O Escorpião de Jade - 4,0
146 - Eterno Amor - 4,5
147 - Invencível - 4,5
148 - Transformers 2 - A Vingança dos Derrotados - 2,5
149 - A Mulher Invisível - 2,5
150 - Um Crime Perfeito - 2,5
151 - Inimigo Íntimo - 4,0
152 - Ensinando a Viver - 3,0
153 - Nosso Tipo de Mulher - 3,0
154 - Ao Vivo de Bagdá - 4,0
155 - Dois Irmãos
156 - Cidade do Silêncio - 2,5
157 - Encontro Marcado - 4,0
158 - Sunschine - O Despertar de um Século - 4,5
159 - Efeito Dominó - 2,5
160 - Amarelo Manga - 2,5
161 - Mais e Melhores Blues - 4,0
162 - O Enigma do Colar - 3,5
163 - Celebridades - 3,5
164 - O Reino - 3,0
165 - O Albergue Espanhol - 4,5
166 - As Bicicletas de Belleville - 4,0
167 - Chegadas e Partidas - 3,0

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ler - II

Ler, não é? Ler, adquirir cultura, saber apreciar as coisas boas, entender o mundo que nos cerca. Certo, mas de que serve a cultura, a sabedoria, se não nos ajuda a fazer as coisas prosaicas de uma forma melhor, de nos relacionarmos melhor com os outros? A sabedoria tem que ter um fim prático ou então, de nada adianta. Que serventia tem um livro, mesmo cheio de sabedoria em suas páginas se ninguém o lê? A mesma de uma pessoa que leu vários livros, mas não desenvolveu nada.

sábado, 20 de junho de 2009

O que eu quero? Sossego

Centro de Orleans, 02h30min da manhã. Lá estava a caminhar sem sono essa pessoa que aqui escreve. Apesar do frio de moer, estava satisfeito pela tranquilidade da madrugada, a praça vazia, poucos carros largados pela rua enquanto seus donos dormiam nos apartamentos das namoradas, as folhas secas do outono rendidas no chão, a água do chafariz borbulhando no silêncio da noite. Aquele local tão cheio de gente durante o dia era meu. Caminhei, bati algumas fotos, observei detalhes que nunca tinha reparado na praça.
Pouco tempo depois, um peugeot começou a passar por ali com uma freqüência exagerada para àquela hora — procurando uma pizzaria aberta é que não estava. Outro insone viajando na madrugada?
Dava voltas no jardim e quando passava por mim diminuía a velocidade; uma hora estacionou. Foda-se. Continuei ali.
Em seguida, enquanto tirava uma foto, levei um susto e dei um sobressalto ao ouvir uma voz balbuciar algo por perto. A criatura passou a poucos metros me encarando. “Que foi?”, eu disse, num tom meio agressivo. O abobado sorriu e seguiu em frente. Era o fim da tranquilidade; 2 minutos depois estava atrás de mim enquanto eu caminhava. Fui devagar pra ver se ele passava logo, mas ele ia devagar também. O cara do peugeot continuava a rodear. “Que porra”, pensava. Segui caminhando sem saber aonde ir, mas, quando comecei a ouvir o cara gemer e fazer psiu, resolvi ir embora — realmente ele estava se achando sexy fazendo aquela voz nasalada e sugando um macarrão imaginário. Por pouco não perdi a calma e fiz besteira (não, não ia ceder aos encantos da boneca). Ele não desistiu, me seguiu até perto de casa chamando e dizendo besteiras. Me resignei e fui embora pelas ruas vazias.
Agora estou aqui — quer dizer, posso estar em qualquer outro lugar — ouvindo o Tim Maia cantar aquilo que não encontrei hoje: Sossego!




sexta-feira, 29 de maio de 2009

Pensamento avulso

Dei o último gole no vinho tinto seco quando me veio à cabeça: e se a terra fosse, vamos dizer, “resetada”? Se voltasse bilhões de anos atrás, lá no início da evolução, depois das primeiras moléculas de carbono, nas primeiras células, e tivesse uma segunda chance de evoluir, será que chegaríamos a esse ponto, existiríamos da mesma forma? A seleção natural funcionaria da mesma maneira? As mutações fortuitas engendrariam a evolução do mesmo jeito, chegando aos protozuários, mais tarde, aos primeiros multicelulares? Os peixes que conseguiam respirar fora d’água e que mais para frente deram origem a nós, seriam possíveis? Haveriam dinossauros? Se sim, e se por sorte não tivesse caído um asteróide para extingui-los, o que teria acontecido a partir dali? E nós, estaríamos aqui — inventaríamos esse nome, Homo Sapiens, pra designar nossa espécie — se todo o processo não fosse tão perfeito como o da primeira vez? E se estivéssemos aqui, chegariamos onde chegamos? Contruíriamos as pirâmides? Jesus existiria? Inventaríamos a pizza, os aviões? A música surgiria da mesma forma, as mesmas melodias seriam descobertas por gênios diferentes? Nossa cultura seria a mesma? O capitalismo existiria?
Tivemos vários conjuntos de acasos. E se lá atrás um deles tivesse sido diferente?

sábado, 2 de maio de 2009

Offline

Madrugada, as luzes da cidade cochilam, poucos carros passam, um cada meia hora, sempre imagino que seja gente indo pra bem longe, existe ainda por aqui um galo a cucuritar, mas raramente, talvez receba para cantar duas vezes por noite apenas, ou pense que não tem mais valor seu cantar hoje em dia, ainda mais no meio da cidade. De longe, entre a porção de casas adormecidas, há uma luz acesa, luz do banheiro, e lá estou eu, tomando banho às 3h30 da manhã. O banheiro é um lugar seguro, me sinto inatingível lá dentro, se chove, discutem na rua, um avião cai, não faz diferença, estou no banheiro, meu segundo escritório e talvez um dos poucos lugares onde as pessoas ficam realmente sozinhas hoje em dia, com tempo pra pensar. Foi isso o que pensei no banho.

Hoje em dia, estamos disponíveis o tempo todo e buscamos cada vez mais isso. No MSN, estamos com todos, ao mesmo tempo e em qualquer lugar, a qualquer hora. Usamos celulares para sermos encontrados e para encontrar os outros. Existe até uma ferramenta do Google que permite ao dono do celular mostrar aos seus contatos onde ele está (ou onde o celular está). Por vezes deixa-se de conhecer gente ao vivo, em uma fila de banco, por exemplo, para ficar trocando mensagens de texto. Em qualquer lugar usa-se isso para evitar a solidão, e poucos são os momentos em que nos vemos realmente sós.
O complicado é que às vezes isso vira compulsão, quase obsessão. Muitos não trabalham tranquilos se tal mensagem de celular não chegou ainda, ou não ficam sossegados sem saber o que se passa na rede social do namorado (a).
Com a internet e esse arsenal de tecnologias e informações, sente-se obrigação de estar por dentro de tudo, de saber opinar sobre tudo — gripe suína? Barack Obama? Palestina? Sarkozy? Crise econômica? A informação existe em profusão e bem maior que nossa absorção, isso gera muita ansiedade. Li certa vez que, na edição dominical do jornal NY Times, existe mais informação do que um cidadão do século 17 recebia durante a vida toda.
Será que não estamos nos desvirtuando um pouco? Penso que não, isso é bom, mas tem-se que saber administrar/lidar com tudo isso.

Pensando assim — paradoxalmente — resolvi tentar ficar 15 dias longe disso tudo, só para ver qualé, tá ligado, bicho?
Vão ser 15 dias sem internet: e-mail, MSN, orkut, blogs e pesquisas pela rede. O que mais vou sentir é não poder ler alguns blogs que acompanho. Alguém imprima e me envie, por favor.
Com celular é mais fácil, pois, estou sem as uns oito meses e não sinto falta. Imaginava-o vibrar o tempo todo, tinha virado cacoete pôr a mão no bolso para ver se o desgraçado estava realmente tocando. E não estava, nunca tocava, era sempre um embuste dessa mente que vos escreve. Quando realmente tocava, eu me irritava por estar tocando, então, esfacelei-o na parede.
Ah, o pior: trabalho o dia todo em frente ao computador. Pequeno detalhe, contudo, não desistirei da empreitada.

Então, para os amigos virtuais, com os quais me comunico somente pela internet, estarei em uma ilha, isolado durante 15 longos dias. Começo hoje, dia 16 de maio eu conto como foi, até!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A irremediável ressaca moral dos itens enviados

Muito cuidado, ao beber afaste-se do computador, fique longe, se possível tome precauções para eventuais tentativas de ligá-lo: antes de sair, faça um caminho de cascas de bananas no trajeto até ele, esconda o cabo de energia ou mesmo ou beba a ponto de não conseguir liga-lo — difícil. Sim, quando chego alto faço muitas besteiras, e a primeira delas é ligar o computador e entrar no meu Hotmail, depois de clicar em novo e-mail, fico ali, confabulando, conjeturando, por sorte, ás vezes pego no sono antes de escrever algo. Porém, vez ou outra me deixo levar, o clima sugere isso, tudo é possível; declarações, convites, desabafos nostálgicos. O problema é que a outra pessoa não está sem os freios sociais que eu estou. É, vivemos freados, e o álcool liberta-nos disso às vezes. Mas temos que ter muito cuidado, principalmente com a irremediável ressaca moral dos itens enviados. Isso me mata. Chego a avisar que bebi no fim dos e-mails, mas acho que já não adianta. No outro dia é aquela coisa, aquele acanhamento até consigo mesmo.
Existe um serviço pra cancelar os e-mails enviados, mas, somente se o destinatário não o tiver aberto ainda. Não adianta, por mais besteira que seja, por mais arrependimento que gere, algumas vezes, no fundo, gostaríamos de dizer aquilo mesmo. E ter controle de tudo, fazer um ato já consumado se desfazer, quebra um pouco o encanto.

A internet mudou totalmente nosso estilo de vida, e não tem mais volta. Admiro essa integração, esse compartilhamento de informações, as oportunidades. Não adianta fazer cara feia pra ela, é como aquela frase: “o saudosismo é a desculpa de quem não se transforma”.
Não quero viver influenciado só por gente que tenha morrido antes da internet. Agora temos muito mais a nossa disposição, as coisas mudaram.

Se beber, pode escrever: stefano473@msn.com.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Intempestivo

Sábado de carnaval. O tumulto havia diminuído por conta do início da missa das 19hs, o pessoal no bar discutia se era justo ter que parar a folia por esse motivo, muitos cantavam e diziam heresias para provocar a turma dos “beatos”, que estava indignada e já havia recolhido às pressas os instrumentos. Fiquei do lado dos que, se a história dos tais beatos proceder, vão para o inferno. Não tem cabimento ter que parar a festa de carnaval por causa de uma religião só. Quer dizer, se houvesse mais seis igrejas nas proximidades e, cada uma com um culto em um horário diferente do dia, não se poderia foliar.
Olhava em volta e via tantas figuras da cidade, tanta gente que é importante dentro daquele pequeno círculo carnavalesco, alguns que realmente só parecem ganhar vida aos meus olhos no carnaval. Chovia, os hereges cantavam, zombavam. Algumas pessoas de fora pediam que a baderna continuasse. Com o passar de alguns minutos a coisa foi se dispersando. Dei meu último gole na cerveja, saí à francesa e fui em direção ao carro, a cada passo as cantorias e risadas se distanciavam mais, até se perderem por completo naquele ar fresco. A igreja estava toda iluminada e com a porta fechada e um pessoal fazia os últimos ajustes para o baile de carnaval na praça.
Sentando dentro daquele sofá móvel, hesitei por um instante, reparando os poucos pingos de chuva caindo sobre o vidro do carro. Observei alguns casais que pegavam filmes na locadora, esse tipo de cena, como aquela de ver casais felizes passeando de mãos dadas como se não enxergassem mais ninguém além de deles próprios, vez em quando trás certa melancolia aos solteiros, sozinhos ou carentes. Não foi isso que senti aquele dia, ao contrário, há tempos isso não me comove. Pus um som diferente pra contrastar com todo aquele clima de carnaval e saí sem destino.
Algum tempo depois, estava num posto de gasolina vazio com o banco inclinado para baixo, deitado, mais uma vez olhando a chuva, que estava forte batendo no vidro. A cabeça estava efervescente, milhares de pensamentos impetuosos sobre tudo o que se possa imaginar, mas ao menos tempo se fixando em certos pontos, tamanha confusão que cheguei a pensar que aquele dia descobriria o mistério do universo. A chuva que cruzava a luz âmbar do poste e se chocava com violência contra os vidros do carro, depois escorria tranqüila, se fundia com as belas músicas de Nick Drake e formava uma junção espantosa em minha mente. Surgia-me uma idéia, que se misturava com a anterior e a posterior. Em seguida se distanciavam e surgiam outros acontecimentos alheios que iam crescendo até “me darem sofrível noção de realidade.” Aos poucos isso foi se esvaindo sem me explicar coisa alguma. Então lembrei: era meu aniversário, havia marcado um churrasco em minha casa para mais ou menos uma hora atrás. O pessoal já devia estar lá. Com certeza o pessoal já estava lá — realmente, até algumas pessoas que eu nunca tinha visto.
Mesmo sabendo do atraso não fui embora, andei mais um tempo, encontrei pessoas, acho que estava tentando fazer que voltasse aquele meio segundo de aparente lucidez que quase tive. O que não aconteceu, o céu já estava estrelado. Alguns sons abafados começaram a me soar familiar, ouvia telefone tocar, pessoas passando, até que alguém remexeu a maçaneta da porta e, de repente, me dei conta de que estava parado em pé, estático e encarando um azulejo — que por sinal tinha um rejunte mal feito — no banheiro da empresa onde trabalho.