quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

O besouro na caixa


O modo de ver e viver como uma prisão. A crença de que exista uma chave para abrir o cadeado dessa prisão. A busca por um outro tipo de razão, a loucura, por exemplo, como ideia de chave, mas essa ideia, a loucura, como apenas outro cadeado ou mesmo novas paredes. A esperança de que exista uma chave que transforme a Weltanschauung – uma esperança otimista, uma utopia, aquilo que oxigena os dias dentro do cubículo impenetrável, cuja única visão, de dentro pra fora e de fora pra dentro, é através do buraco da fechadura. Visualizar as coisas assim, uma arquitetura simples. Ter imagens de chaves, a crença de que são chaves lugares e pessoas, mas não qualquer lugar e qualquer pessoa, ou quem sabe pensar que o máximo é esgarçar o buraco da fechadura e ver melhor o mundo lá fora, e ser melhor visto aqui dentro. O cubículo é nossa caixa craniana, os prisioneiros somos todos nós, nos comunicando com palavras que nos precedem, tentando dizer o que se passa lá dentro. A crença de chaves ou pelo menos marretas. A ilusão como condição humana. Sem o sonho não seria exequível viver, sem a sensação de possível os dias seriam como milhões de hectares de terras estéreis.