sexta-feira, 29 de maio de 2009

Pensamento avulso

Dei o último gole no vinho tinto seco quando me veio à cabeça: e se a terra fosse, vamos dizer, “resetada”? Se voltasse bilhões de anos atrás, lá no início da evolução, depois das primeiras moléculas de carbono, nas primeiras células, e tivesse uma segunda chance de evoluir, será que chegaríamos a esse ponto, existiríamos da mesma forma? A seleção natural funcionaria da mesma maneira? As mutações fortuitas engendrariam a evolução do mesmo jeito, chegando aos protozuários, mais tarde, aos primeiros multicelulares? Os peixes que conseguiam respirar fora d’água e que mais para frente deram origem a nós, seriam possíveis? Haveriam dinossauros? Se sim, e se por sorte não tivesse caído um asteróide para extingui-los, o que teria acontecido a partir dali? E nós, estaríamos aqui — inventaríamos esse nome, Homo Sapiens, pra designar nossa espécie — se todo o processo não fosse tão perfeito como o da primeira vez? E se estivéssemos aqui, chegariamos onde chegamos? Contruíriamos as pirâmides? Jesus existiria? Inventaríamos a pizza, os aviões? A música surgiria da mesma forma, as mesmas melodias seriam descobertas por gênios diferentes? Nossa cultura seria a mesma? O capitalismo existiria?
Tivemos vários conjuntos de acasos. E se lá atrás um deles tivesse sido diferente?

sábado, 2 de maio de 2009

Offline

Madrugada, as luzes da cidade cochilam, poucos carros passam, um cada meia hora, sempre imagino que seja gente indo pra bem longe, existe ainda por aqui um galo a cucuritar, mas raramente, talvez receba para cantar duas vezes por noite apenas, ou pense que não tem mais valor seu cantar hoje em dia, ainda mais no meio da cidade. De longe, entre a porção de casas adormecidas, há uma luz acesa, luz do banheiro, e lá estou eu, tomando banho às 3h30 da manhã. O banheiro é um lugar seguro, me sinto inatingível lá dentro, se chove, discutem na rua, um avião cai, não faz diferença, estou no banheiro, meu segundo escritório e talvez um dos poucos lugares onde as pessoas ficam realmente sozinhas hoje em dia, com tempo pra pensar. Foi isso o que pensei no banho.

Hoje em dia, estamos disponíveis o tempo todo e buscamos cada vez mais isso. No MSN, estamos com todos, ao mesmo tempo e em qualquer lugar, a qualquer hora. Usamos celulares para sermos encontrados e para encontrar os outros. Existe até uma ferramenta do Google que permite ao dono do celular mostrar aos seus contatos onde ele está (ou onde o celular está). Por vezes deixa-se de conhecer gente ao vivo, em uma fila de banco, por exemplo, para ficar trocando mensagens de texto. Em qualquer lugar usa-se isso para evitar a solidão, e poucos são os momentos em que nos vemos realmente sós.
O complicado é que às vezes isso vira compulsão, quase obsessão. Muitos não trabalham tranquilos se tal mensagem de celular não chegou ainda, ou não ficam sossegados sem saber o que se passa na rede social do namorado (a).
Com a internet e esse arsenal de tecnologias e informações, sente-se obrigação de estar por dentro de tudo, de saber opinar sobre tudo — gripe suína? Barack Obama? Palestina? Sarkozy? Crise econômica? A informação existe em profusão e bem maior que nossa absorção, isso gera muita ansiedade. Li certa vez que, na edição dominical do jornal NY Times, existe mais informação do que um cidadão do século 17 recebia durante a vida toda.
Será que não estamos nos desvirtuando um pouco? Penso que não, isso é bom, mas tem-se que saber administrar/lidar com tudo isso.

Pensando assim — paradoxalmente — resolvi tentar ficar 15 dias longe disso tudo, só para ver qualé, tá ligado, bicho?
Vão ser 15 dias sem internet: e-mail, MSN, orkut, blogs e pesquisas pela rede. O que mais vou sentir é não poder ler alguns blogs que acompanho. Alguém imprima e me envie, por favor.
Com celular é mais fácil, pois, estou sem as uns oito meses e não sinto falta. Imaginava-o vibrar o tempo todo, tinha virado cacoete pôr a mão no bolso para ver se o desgraçado estava realmente tocando. E não estava, nunca tocava, era sempre um embuste dessa mente que vos escreve. Quando realmente tocava, eu me irritava por estar tocando, então, esfacelei-o na parede.
Ah, o pior: trabalho o dia todo em frente ao computador. Pequeno detalhe, contudo, não desistirei da empreitada.

Então, para os amigos virtuais, com os quais me comunico somente pela internet, estarei em uma ilha, isolado durante 15 longos dias. Começo hoje, dia 16 de maio eu conto como foi, até!